(…) o barulhento grupo de jovens estava tão empolgado em festejar mais uma vitória do seu líder, que não se deram conta de que eram observados.
O vulto se aproximou lentamente, como um caçador a cercar sua presa. O motor de sua Harley Davidson estava momentaneamente desligado, o que possibilitou que os espreitasse sem ser notado. As roupas negras, combinando com a cor da potente máquina sob seu comando, realçavam seu ar sinistro a ocultar-se nas sombras daquela madrugada.
Os jovens continuavam a conversar animadamente, alguns acompanhados de suas respectivas namoradas, todas produzidas e languidamente entregues a bebedeira de uma cerveja irlandesa de cor escura. Continuou a observá-los e foi reconhecendo um a um dos personagens que fizeram parte da história de sua infância. Alguns foram fáceis de reconhecer, pois não tinham mudado muito, mas ele… Ele estava incrivelmente mudado! A cabeleira negra foi cortada, os óculos de aros grossos não estavam mais presentes em sua face e o corpo franzino cedeu espaço a músculos bem definidos, visíveis pelos contornos da camiseta justa ao corpo. Mas apesar da visível mudança na aparência, moldada pelos anos em academias, ele ainda era culpado. E pagaria por isso.
Sentiu o frio da noite invadir sua alma, os olhos ameaçaram deixar uma grossa lágrima escapar, mas antes que isso ocorresse todos ouviram o estrondoso ronco da Harley cortar a madrugada. O grupo viu a máquina que era o sonho de dez entre dez jovens como eles passar velozmente, levando um vulto negro, que evocava mistério e respeito.
Arhalec, mal contendo a curiosidade crescente, perguntou ao líder:
– Quem é?
Antes de sorver mais um gole de cerveja, Jellyha disse displicentemente:
– Não sei. Ninguém aqui na área tem uma moto como essa.
E olhando seriamente para o companheiro, sentenciou:
– Só há um jeito de descobrir!
– Qual?
Sua resposta foi o ronco da moto de Jellyha, que se preparava para seguir o estranho, fato que não agradou sua namorada:
– Pretende segui-lo? E se for algum bandido fugindo da polícia?
– Se for, descobrirei!
Disse dando um beijo rápido na garota e partindo no encalço do estranho.
O vulto não demorou para atingir a estrada. Jellyha o seguia de perto, tendo como companhia apenas o asfalto negro, que também abrigava a pressa daquele que se tornou furioso ao perceber que estava sendo seguido.
Quando se recuperou do acesso de fúria, decidiu fazer o jogo do seu perseguidor. Era hora de testar suas habilidades. Diminuiu a velocidade e aguardou que ele emparelhasse com sua moto, fato que não demorou a ocorrer. Acenou com a mão esquerda para que este o seguisse e então acelerou moderadamente, o suficiente apenas para ganhar um pouco de distância e manter a dianteira.
O outro não se intimidou e seguiu atrás do vulto, oscilando entre curioso e impressionado com a inesperada situação. Quando estava próximo de ultrapassar, o vulto se distanciava com uma facilidade absurda, dando claramente a entender que estava brincando com ele.
Irritado pela afronta, Jellyha decidiu fazer o jogo do opositor, acelerando inesperadamente quando este diminuiu para que novamente se emparelhasse com ele. Mas a máquina potente do vulto mostrou serviço e em questão de segundos ele viu a vantagem que havia conquistado diminuir e desaparecer. Estava novamente atrás e desta vez a Harley não o aguardou e seguiu em frente sem desacelerar um só momento. Quando percebeu que seria impossível alcançá-la, o líder dos Justers desistiu da perseguição e rumou novamente para a rua onde seus amigos o aguardavam.
Quilômetros adiante a Harley parou. Com o motor ligado, o vulto retirou o capacete e balançou a cabeça para libertar os longos cabelos. Olhou para a estrada atrás de si e só viu a escuridão, ele havia desistido. (…)
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