Aconteceu de novo. Após terminar a leitura da versão três do meu primeiro romance, a sensação de “Ainda não é isso…” insistia em se fazer presente.
Então voltei ao doloroso (e necessário) exercício de autoanálise, torcendo para encontrar o motivo de tanto descontentamento.
E encontrei.
Simples? Claro que não!
Boa parte dos escritores são pessoas sensíveis, observadoras e um tanto (em alguns casos muito) egocêntricas. Aqueles do tipo que uma crítica sobre o seu texto gera uma avalanche de outros textos, difamando o ser que se atreveu a fazer uma análise do que leu.
Não serei hipócrita de negar que certas críticas, mesmo construtivas, doem. Mas são necessárias. E foram justamente essas críticas, de pessoas que não me conhecem e que não se sentem na obrigação de serem cordiais, que me ajudaram a entender o que me incomodava nos meus textos.
E o que tanto me incomodava?
Cometi os erros básicos de todo escritor iniciante quanto aos seus personagens, sentia que eles não me convenciam, salvo os personagens de crônicas.
Eram apenas nomes dentro de um texto, com uma descrição física e ações mecânicas, superficiais. Este foi o primeiro ponto que identifiquei.
Comecei a prestar atenção aos enredos que chamavam minha atenção e que não evanesciam da memória tão logo a leitura terminasse. Não por coincidência eram textos com personagens ricos, apresentados em várias nuances ao longo da história.
Outro ponto que também me chamou a atenção foi a ambientação do local das ações. Em alguns textos não era possível visualizar com clareza o ambiente em que as ações se passavam, já em outros parecia que eu estava no local, observando o decorrer da história de dentro dela!
Eis a fórmula. Porém há o desafio de descrever na medida certa, sem cansar o leitor.
Em paralelo a estas constatações, sigo afirmando a importância da fase de pesquisa. Isso mesmo. Um verdadeiro garimpo de detalhes que fazem a diferença.
Na minha opinião, melhor do que escrever que meu protagonista segue ideais iluministas, é convencer meu leitor através de sua conduta, diálogos e ações de que ele é um seguidor do racionalismo filosófico de sua época.
E para tanto, decidi mergulhar na leitura do legado dos filósofos iluministas. Quero entender suas ideias, convicções, seus argumentos e ter o máximo de informações do pensamento filosófico da França e Inglaterra do século das luzes.
Acredito que desta forma será mais fácil dar a profundidade necessária aos meus personagens e ao enredo.
Depois desta autoanálise, recorro ao exercício de reescrever pela quarta vez meu primeiro romance. E o reescreverei pela centésima nona vez se for necessário, até que me convença. O objetivo é fazer a sensação de “Ainda não é isso…” desaparecer por completo.
E aos leitores deste espaço peço licença, mas por um bom motivo, afinal não posso deixar Descartes, Rousseau, Voltaire e Diderot sem uma companhia feminina.
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