O Mundo de Sofia

12 10 2008

A história começa com fatos misteriosos que passam a fazer parte do cotidiano de uma adolescente prestes a debutar, seu nome é Sofia.

A leitura do calhamaço de Jostein Gaarder é instigante pela qualidade narrativa da história da filosofia ocidental, desde a antiguidade clássica até os dias atuais.

E toda esta descrição de teorias das personalidades marcantes para o pensamento filosófico ocidental, que vão desde Tales de Mileto até Darwin, chegando até os contemporâneos, é feita em forma de diálogos entre a jovem Sofia e o seu professor de filosofia. Juntos, passam a fazer parte de uma história paralela. Que os faz formular seu próprio pensamento filosófico a respeito dos acontecimentos estranhos que lhes cercam e que são causados pela figura onipresente de um major, que envia postais do Líbano para sua filha Hilde, através de Sofia. O grande mistério é que Sofia não conhece ninguém com este nome. Aos poucos esta história paralela é desvendada, andando de mãos dadas com as lições passadas pelo professor de filosofia.

Todas as lições são muito bem exemplificadas pelo professor que sempre atende aos apelos de sua dedicada aluna, fazendo com que a leitura seja agradável, por mesclar momentos de filosofia pura com cenas engraçadas do universo que cerca Sofia e mais para o final do livro por cenas um tanto bizarras.

Dos poucos mais de trinta capítulos, todos com um título e uma frase que religiosamente será encontrada ao longo do texto, o leitor pode saber por antecedência qual será o assunto ou a personalidade tratada nas próximas páginas.

Apesar de ser um romance de ficção, o livro trás muitas informações sobre os filósofos e a arte e cultura de suas épocas, explanando os motivos que fizeram de Sócrates, Descartes, Locke, Kant, Marx dentre outros, figuras tão importantes da época em que viveram

O Autor

Jostein Gaarder, norueguês, nasceu em 1952; estudou Filosofia, Teologia e Literatura. A partir de 1991 ganhou projeção internacional com o Mundo de Sofia.

O Livro

GAARDER, Jostein. “O Mundo de Sofia: Romance da história da Filosofia”; tradução de João Azenha Jr.

São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Título Original: Sofies verden.

ISBN: 978-85-7164-475-5.

560 páginas.





Pequenos Sinais

29 09 2008

A vida é feita de pequenos sinais.

(Ernest Hemingway)

Um amigo já havia me falado a respeito e eu me interessei, mas chegando em casa após alguns bons goles de vinho quem disse que eu me lembrava do nome do autor?

Passou.

Indo para o trabalho e tentando conter o tédio da segunda-feira, reparei em um anuncio de livros que logo me chamou a atenção. E não é que era o tal livro que meu amigo havia me indicado tempos atrás?

Memorizei o hotsite da coleção para dar uma olhada e percebi que não é apenas um livro e sim oito!

E apesar do título que lembra mitologia grega, a saga gira em torno da vida de Jesus de Nazaré, enfatizando seu lado humano sem deixar de lado sua existência espiritual.

Nunca li nada do J.J Benítez, mas estou prevendo que em breve lerei ao menos o primeiro livro da saga, por dois motivos: o primeiro é que embora eu não seja católica, a história de Jesus e os mistérios acerca de sua divindade sempre atiçaram a minha curiosidade e o segundo é porque gosto de ler mesmo e sempre invento desculpas prá isso.

Ficou curioso(a)?

Segue o link do hotsite: http://euleiocavalodetroia.com.br





Fragmento de um conto sem nome

14 09 2008

(…) o barulhento grupo de jovens estava tão empolgado em festejar mais uma vitória do seu líder, que não se deram conta de que eram observados.

O vulto se aproximou lentamente, como um caçador a cercar sua presa. O motor de sua Harley Davidson estava momentaneamente desligado, o que possibilitou que os espreitasse sem ser notado. As roupas negras, combinando com a cor da potente máquina sob seu comando, realçavam seu ar sinistro a ocultar-se nas sombras daquela madrugada.

Os jovens continuavam a conversar animadamente, alguns acompanhados de suas respectivas namoradas, todas produzidas e languidamente entregues a bebedeira de uma cerveja irlandesa de cor escura. Continuou a observá-los e foi reconhecendo um a um dos personagens que fizeram parte da história de sua infância. Alguns foram fáceis de reconhecer, pois não tinham mudado muito, mas ele… Ele estava incrivelmente mudado! A cabeleira negra foi cortada, os óculos de aros grossos não estavam mais presentes em sua face e o corpo franzino cedeu espaço a músculos bem definidos, visíveis pelos contornos da camiseta justa ao corpo. Mas apesar da visível mudança na aparência, moldada pelos anos em academias, ele ainda era culpado. E pagaria por isso.

Sentiu o frio da noite invadir sua alma, os olhos ameaçaram deixar uma grossa lágrima escapar, mas antes que isso ocorresse todos ouviram o estrondoso ronco da Harley cortar a madrugada. O grupo viu a máquina que era o sonho de dez entre dez jovens como eles passar velozmente, levando um vulto negro, que evocava mistério e respeito.

Arhalec, mal contendo a curiosidade crescente, perguntou ao líder:

– Quem é?

Antes de sorver mais um gole de cerveja, Jellyha disse displicentemente:

– Não sei. Ninguém aqui na área tem uma moto como essa.

E olhando seriamente para o companheiro, sentenciou:

– Só há um jeito de descobrir!

– Qual?

Sua resposta foi o ronco da moto de Jellyha, que se preparava para seguir o estranho, fato que não agradou sua namorada:

– Pretende segui-lo? E se for algum bandido fugindo da polícia?

– Se for, descobrirei!

Disse dando um beijo rápido na garota e partindo no encalço do estranho.

O vulto não demorou para atingir a estrada. Jellyha o seguia de perto, tendo como companhia apenas o asfalto negro, que também abrigava a pressa daquele que se tornou furioso ao perceber que estava sendo seguido.

Quando se recuperou do acesso de fúria, decidiu fazer o jogo do seu perseguidor. Era hora de testar suas habilidades. Diminuiu a velocidade e aguardou que ele emparelhasse com sua moto, fato que não demorou a ocorrer. Acenou com a mão esquerda para que este o seguisse e então acelerou moderadamente, o suficiente apenas para ganhar um pouco de distância e manter a dianteira.

O outro não se intimidou e seguiu atrás do vulto, oscilando entre curioso e impressionado com a inesperada situação. Quando estava próximo de ultrapassar, o vulto se distanciava com uma facilidade absurda, dando claramente a entender que estava brincando com ele.

Irritado pela afronta, Jellyha decidiu fazer o jogo do opositor, acelerando inesperadamente quando este diminuiu para que novamente se emparelhasse com ele. Mas a máquina potente do vulto mostrou serviço e em questão de segundos ele viu a vantagem que havia conquistado diminuir e desaparecer. Estava novamente atrás e desta vez a Harley não o aguardou e seguiu em frente sem desacelerar um só momento. Quando percebeu que seria impossível alcançá-la, o líder dos Justers desistiu da perseguição e rumou novamente para a rua onde seus amigos o aguardavam.

Quilômetros adiante a Harley parou. Com o motor ligado, o vulto retirou o capacete e balançou a cabeça para libertar os longos cabelos. Olhou para a estrada atrás de si e só viu a escuridão, ele havia desistido. (…)





Quem és tu, ó criatura!

24 08 2008

Nunca tive dúvidas sobre quem sou, a Luciana Muniz, mulher, Analista de sistemas, apaixonada por literatura e que se orgulha de colecionar amizades dos tempos mais remotos de sua existência. Mas não sei dizer ao certo quem é a Luciana Muniz escritora.

Quando senti a necessidade de criar um novo blog, com mais recursos e conteúdo diversificado, me dei conta de que algo havia mudado no meu comportamento com a escrita. Já não havia mais espaço para as crônicas carregadas de sentimento, marca registrada do meu antigo blog, eu senti a necessidade de buscar assuntos diferentes para escrever e também lapidar a forma de escrevê-los.

Percebi nos momentos em que planejava este blog, que dentro de mim não há mais espaço para a escrita por prazer, por hobby. Esta fase já passou.

Mas daí surgem as divagações filosóficas e perturbadoramente essenciais para os que planejam seguir um novo caminho: sobre o que escrever?

Não, não é uma pergunta idiota. O que quero dizer é: em que gênero da literatura meus textos se encaixam? Nos projetos em que participei, já dá para se ter uma noção da diversidade: na antologia Soltando o Verbo contribuí com duas crônicas, a antologia Vampirus Brasil reuniu contos sobre vampiros, sob o gênero de terror. E o projeto AlgóriA, em que estou trabalhando, se encaixa no gênero fantasia.

Deu para entender a minha preocupação?

Por isso a idéia de criar este espaço, onde eu possa fazer experimentações tanto com contos quanto com crônicas, com temas variados. O próprio banner já traduz a minha intenção com a descrição “Contos, Crônicas e outras experimentações”. Não é uma frase engraçadinha para cativar leitores, tampouco estilo literário, apenas um aviso aos navegantes sobre o que encontrarão nestas páginas.

Por isso não se assuste de em um mês ler um conto com temática sobrenatural e no mês seguinte algo totalmente urbano, isso fatalmente acontecerá.

A proposta deste blog é que haja uma descoberta a cada novo texto. E o mais interessante é que esta “descoberta” será uma via de duas mãos, pois ocorrerá gradualmente para a autora e para os amigos e leitores. Talvez eu descubra que o ideal é justamente ser eclética nos assuntos abordados, não sei. De qualquer modo continuarei buscando a minha identidade como escritora, sempre me perguntando: quem és tu, ó criatura!





De Sombra e de Sol

24 08 2008

Era um local evitado pelas pessoas de fé. Um antigo salão frio e abandonado. O vento passava feroz por entre as frestas de suas janelas e adentrava a escuridão de seu interior, que era atenuada apenas pelos fracos raios solares do final da tarde. Tão logo a noite chegasse, tudo se tornaria obscuro.

Em uma grandiosa pedra de mármore branco ela descansava. Adormecida parecia uma criança inocente, a alva camisola escondia as formas sinuosas do seu corpo, os longos cabelos negros caíam-lhe sobre o colo indo parar perto da fina cintura.

O ultimo raio de sol banhou seus olhos como que a avisando que dali por diante apenas a escuridão a acompanharia. Ela abriu os olhos lentamente e foi pouco a pouco se acostumando com a falta de luz no interior do salão.

“Estou só…”

Havia sonhado e em seus sonhos ela pôde apreciar uma garota brincando nos campos verdes da floresta, ela corria feliz e se deliciava com o perfume das flores que encontrava no caminho. O sol de primavera fazia com que ela sentisse um calor gostoso percorrer o corpo, suas bochechas ficaram rosadas e ela sentiu sede. Andando alguns metros encontrou um riacho de águas cristalinas, ajoelhou-se e não se importou de molhar o fino vestido, com as duas mãos em forma de concha saciou sua sede. O líquido puro refrescou o crescente calor que sentia e então ela sentiu muito, muito frio.

Acordou acordado ali, no mármore gélido daquele salão amaldiçoado. Sua existência havia se limitado a esperar por alguém que a libertasse do frio e da escuridão, alguém que fosse capaz de trazer o calor do sol de volta. Desesperava-se todas as vezes que ouvia vozes ao redor do salão, sorrateiramente ia observar os visitantes, que não tardavam a ir embora tão logo a luz do sol deixasse o local.

E ela permanecia ali, imóvel, triste e com finas lágrimas percorrendo o maravilhoso rosto.

***

Naquela madrugada o vento rugia ferozmente, balançava a copa das árvores e fazia com que as folhas que iam se desprendendo dos galhos bailassem no ar. Não era sinal de chuva, pois o céu se mantinha estrelado e com luar. As pessoas de pouca fé não conseguiriam entender que havia magia no ar.

O silêncio da madrugada foi cortado pela chegada de um cavalo que trazia um moribundo, o homem estava trêmulo e quase sem forças de manter-se em pé. Com muito custo, conseguiu entrar no salão, ignorava sua fama de amaldiçoado, em sua terra nunca lhe contaram sobre maldições proferidas ao pé da morte e sob o signo do ódio.

O cavalo se assustou e foi embora assim que o homem desapareceu na escuridão. Após alguns passos, ele caiu ao chão de joelhos e procurou desesperadamente em seu alforje uma lanterna, e assim que a encontrou, pôde examinar o local que havia escolhido para pernoitar.

Ao que tudo indicava o lugar estava mesmo abandonado, confirmando suas suspeitas de quando o avistou instantes atrás ainda na estrada. Com sorte ele agüentaria até o amanhecer, quando poderia procurar um médico que aceitasse curar sua enfermidade, uma ferida que estava aberta e que não doía mais. Os médicos de sua terra o haviam desenganado, mas ele se recusou a acreditar que deixaria de viver tão precocemente e movido pelo desespero, resolveu procurar por ajuda em outro lugar.

Recostou-se em uma antiga poltrona e tentou adormecer, sentiu que não estava mais com febre, mau sinal… Fechou os olhos e permaneceu em silêncio, minutos depois uma voz feminina sussurrava:

“Salve-me…”

Ele não se alterou, nem sequer abriu os olhos, imaginou que já estava delirante e tentou novamente adormecer. O cansaço da viagem o fez dormir rapidamente e em seu sono pesado acabou por ter um longo sonho.

***

Incrivelmente sentiu que havia se transportado para um outro tempo, um passado distante. O cenário era aquele enorme salão, mas ele estava todo iluminado! Decorado como se ali fosse haver uma grandiosa festa. Homens e mulheres estavam felizes, brindando e saudando um jovem rapaz, que parecia aguardar alguém. Deu mais uma volta em torno do salão e pôde apreciar as cortinas aveludadas, os grandiosos lustres de velas, os garçons servis, carregando delicias em suas bandejas, tudo estava perfeito.

De repente as portas do salão se abriram dando passagem a uma mulher. Todos olharam espantados para a jovem, que vestia apenas uma transparente camisola. O jovem rapaz olhou-a atarantado e sem entender o que significava aquilo tudo, perguntou:

– O que está havendo, meu amor? Por que desceste se ainda não estavas pronta?

– Desci para lhe dizer que não mais unirei minha vida à tua!

– O que disse?

– O que acabaste ouvir! Mande todos voltarem para suas casas! Não haverá mais cerimônia de casamento!

Assim que terminou de proferir estas palavras, a noiva deu meia volta e se preparava para deixar o salão, quando percebeu uma nódoa vermelha em sua camisola, não teve tempo de sentir dor. O rapaz não deixou que ninguém a ajudasse e ameaçava com seu punhal, de ouro maciço, quem tentava se aproximar da jovem.

– Eu te amaldiçôo! Vagarás por este salão vestida de escuridão e não mais verás a luz do sol!

O jovem apunhalou o próprio abdômen enquanto continuava a bradar:

– Sozinha por toda a eternidade, não terás paz!

E então causou um corte no próprio pescoço, deixando a vida de maneira desonrosa. Todos no salão estavam petrificados com aquela tragédia, gritos ecoavam pelo salão, pessoas corriam sem saber o que fazer, até que um homem ajoelhou-se diante dos corpos dos jovens:

– Este salão foi amaldiçoado…

– Acredita nas coisas que ele disse antes de se suicidar?

– O punhal dele… É de ouro, o metal da magia. E a ira com que ele proferiu aquelas palavras finalizaram o encanto.

***

O homem acordou de repente, que sonho estranho! Mal teve tempo de se acostumar de novo com a escuridão e visualizou a jovem mulher do sonho. Estava deitada na pedra branca de mármore olhando fixamente para ele, que sentiu o coração bater forte, não era possível!

Ela estendeu a mão para ele com certa dificuldade e lhe implorou:

– Salve-me!

Ele não sentia medo, estava confuso, não sabia distinguir se ainda estava sonhando ou se estava acordado, fez um esforço sobre-humano para se aproximar daquela mulher que lhe chamava com aflição. Quando conseguiu se aproximar, percebeu que ela não era real, mas também não era fruto de sua imaginação, sentiu o toque gélido de suas mãos em seu ombro e aproximou-se para lhe ouvir dizer:

– Sabes que está para morrer…

Um tanto desalentado, ele concordou:

– Sei…

– Liberte-me! E eu o conduzirei por caminhos suaves.

O vento, que já soprava forte, abriu uma das portas do salão e o frio da madrugada invadiu o ambiente, com o resto de suas forças, ele gritou:

– Eu te liberto! Estás livre da escuridão e pronta para sentir em tua pele o calor do sol e o perdão dos homens de fé!

Ela o abraçou e ele pode sentir o peso do corpo daquela bela mulher ir aumentando pouco a pouco entre seus braços, fechou os olhos e a viu correndo pelos campos, maravilhada com a repentina liberdade.

E então ele adormeceu para sempre…





De casa nova!

10 08 2008

Após meses ensaiando a inauguração da “casa nova” aqui estou. Não. Não vou discursar com dedo em riste prometendo (e ainda mais em época de eleição!) que serei disciplinada e que postarei religiosamente neste espaço todos os dias. Mas para ser razoável, assumi o compromisso de, pelo menos, manter o ritmo de quando contribuía para o Soltando o Verbo e para o site Novas Visões, ou seja, uma crônica a cada quinze dias e um conto mensal, que tal?

Como dito no funeral do Shadow of the Moon, a idéia é continuar com as experimentações mirabolantes com as letrinhas, testando os limites da minha imaginação e entretendo os visitantes.

Sejam todos bem vindos! 😀





O Bronze imaginário

13 07 2008

Quando cheguei ao aeroporto muitos nos aguardavam, estavam ansiosos para receber todos aqueles que participariam da importante exposição. Somente as melhores obras daquele famoso escultor seriam expostas, e eu estava orgulhosa por participar de um evento tão badalado.

O transporte das peças para o museu foi demorado, calor intenso, muito trânsito e eu me sentindo mal por ter que fazer o trajeto frente a frente com um arqueiro de bronze a me fitar, e com sua flecha apontada para os meus pés. Por um instante achei graça deste meu mal estar, totalmente imaginário, ele nada poderia fazer para me ferir.

Finalmente chegamos ao museu, que já contava com mais pessoas especialmente selecionadas para cuidar do bem estar daqueles que dariam sentido à toda aquela logística de transporte. O dia se foi e eu aguardei pacientemente que o sol novamente se elevasse no horizonte, para então observar atentamente a fisionomia das pessoas que visitariam a exposição. Para mim é gratificante ver as mais diversas reações nos rostos que fitam as telas e as esculturas. Uns se admiram com os contornos perfeitos esculpidos artisticamente no bronze, outros se emocionam com a expressão facial das minhas companheiras e se põem a pensar intimamente em mil coisas. Eu as chamo de companheiras porque as vejo assim, como verdadeiras irmãs, pois junto delas viajei pelo mundo, fazendo parte da rotina de muitas exposições. Mas esta exposição em especial teve um sabor diferenciado para mim.

Aconteceu no terceiro dia em que o museu abriu suas portas para os visitantes. Uma garota dos seus oito anos se aproximou timidamente de mim, mas de início não reparei muito nela, pois não imaginava que em mim houvesse qualquer coisa que despertasse a curiosidade infantil. Mas os minutos corriam velozmente e ela não parava de me examinar, confesso que me senti incomodada, principalmente quando em uma olhadela, reparei que ela imitava a minha postura. Seus pais vieram ao seu encalço e eu não entendi porque ficaram com os olhos rasos de lágrimas. Por fim ouvi a mãe confessar baixinho para o marido que sentia um nó na garganta só de pensar que a pequena não sobreviveria a tempo de se tornar a primeira bailarina do teatro municipal. Tinha uma doença grave e sabia disso, por isso era tão silenciosa.

Depois daquela tarde comecei a imaginar as motivações que levam os escultores a criar esculturas tão perfeitas, tão reais. Se eu tivesse o dom de criar algo, faria exatamente como o meu mestre fez, criaria uma bailarina com uma linda saia em musselina e as longas madeixas presas em uma trança. Uma peça que inspirasse e ao mesmo tempo enchesse de esperança os corações daqueles que soubessem ver vida em uma escultura de bronze como eu.

Jovem Dançarina